No dia 19
de setembro a ABEDi e as escolas de direito da FGV do Rio de Janeiro
e de São Paulo realizarão o seminário "Os cursos jurídicos e
a educação republicana", em São Paulo. O evento foi precedido
pela publicação de uma carta aos professores e alunos de direito,
subscrita pelo atual Presidente da ABEDi, Professor Evandro Menezes
de Carvalho. Eis sua íntegra:
O que esperar de nós?
O que esperar de nós?
Carta
aos professores e alunos de direito
São 650.000 alunos de direito no Brasil. Estes números revelam o sucesso da expansão atual do ensino superior, mas nada nos dizem sobre “quem”, “como” e “o que” ensinamos e aprendemos diariamente nas salas de aula dos cursos jurídicos. Duas simples perguntas deveriam orientar esta reflexão. São elas: Qual país queremos? Qual elite intelectual estamos formando? Estas duas perguntas relacionam-se mais com o tema “educação” do que com o “direito”. Ambas evidenciam a pertinência de começarmos a discutir os rumos dos cursos jurídicos como educadores e não apenas como juristas.
Este
debate está em nossas mãos. O nosso país vive um momento de
profundas transformações sociais, portanto, devemos buscar entender
qual o nosso papel e como podemos contribuir para um modelo nacional
de desenvolvimento. Tal projeto pressupõe coragem de pensar e agir
com o capital intelectual e os meios de que dispomos. E são muitos.
A
novidade desta última década é que o povo brasileiro – antes
privado do acesso à educação – está frequentando, cada vez
mais, as escolas e as universidades. Resta saber se o que se ensina e
se aprende tem conexão com este novo Brasil: o da mobilidade social
intensa, o que elegeu um proletário e uma mulher para liderar estas
transformações, o que busca a sua dignidade e o seu futuro em um
mundo hostil às minorias.
Para que
a educação brasileira encontre-se com o Brasil, devemos “olhar”
o país com olhos de brasileiro. Isto parece óbvio, mas não é. São
muitos aqueles que só conseguem enxergar o país por meio das ideias
produzidas em instituições estrangeiras consagradas. Este cacoete
intelectual decorre de uma preguiça criativa que acomete a elite
tradicional brasileira. Durante muitos anos, aproveitando-se da
formação educacional precária oferecida para o nosso povo, esta
elite ampliou seus espaços de poder e se distanciou do país real
apenas com as lições que trazia “de fora”. Este distanciamento
do povo e de suas ideias é causador de inúmeros preconceitos contra
o próprio povo e a sua inteligência. Devemos resgatar ambos.
Como?
Devemos empenhar-nos para formar não a elite tradicional, mas
uma nova elite intelectual para o nosso país. Devemos romper
a barreira do isolamento e discutir com os professores e alunos de
outras áreas do saber projetos comuns que privilegiem a educação
e, sobretudo, a formação desta nova elite mais ampliada e orgulhosa
de sua origem. Devemos valorizar o pensamento brasileiro e dialogar
soberanamente com as boas ideias vindas de qualquer outro país e não
somente com aquelas oriundas daqueles países que formaram a nossa
elite tradicional. Devemos transformar a universidade em um lugar
interessante onde iniciativas inovadoras inspiram nossos jovens a se
tornarem os novos líderes do país, independentemente de cor, raça,
sexo, religião e classe social. Devemos fazer com que todos
sintam-se capazes de viver plenamente a universidade imbuídos deste
espírito e que, ao fazerem isto, escrevam uma nova história para o
Brasil.
Trata-se de uma revolução pacífica feita pelas próprias mentes brasileiras, renovando o sentido da educação como a riqueza do presente e o patrimônio a construir para gerações futuras. Não há outra via para a nossa contribuição no desenvolvimento do nosso país e de um mundo mais inteligente.
Imbuída deste espírito, a Associação Brasileira de Ensino do Direito (ABEDi) convida todos os professores e alunos de direito a se unirem em torno de uma agenda nacional de discussão sobre o tema: “Os Cursos Jurídicos e Educação Republicana”. Este tema diz respeito a toda a população na medida em que retoma o sentido do “público” no direito e nas carreiras jurídicas em um país cujo desenvolvimento é ameaçado frequentemente por uma cultura do poder. Esperamos contar com a adesão de todos a este movimento que visa, antes de tudo, dar novos rumos à formação jurídica brasileira e legitimar o Estado Democrático de Direito.
Trata-se de uma revolução pacífica feita pelas próprias mentes brasileiras, renovando o sentido da educação como a riqueza do presente e o patrimônio a construir para gerações futuras. Não há outra via para a nossa contribuição no desenvolvimento do nosso país e de um mundo mais inteligente.
Imbuída deste espírito, a Associação Brasileira de Ensino do Direito (ABEDi) convida todos os professores e alunos de direito a se unirem em torno de uma agenda nacional de discussão sobre o tema: “Os Cursos Jurídicos e Educação Republicana”. Este tema diz respeito a toda a população na medida em que retoma o sentido do “público” no direito e nas carreiras jurídicas em um país cujo desenvolvimento é ameaçado frequentemente por uma cultura do poder. Esperamos contar com a adesão de todos a este movimento que visa, antes de tudo, dar novos rumos à formação jurídica brasileira e legitimar o Estado Democrático de Direito.
Rio de Janeiro, 5 de setembro de 2011
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