Vivenciamos uma época em que a dimensão cultural da universidade
está em franca diminuição, onde o convívio entre conhecimentos
está posto de lado em favor de uma especialização tecnicista
extirpante.
A educação, em plena era da produção em massa, das linhas de
montagem automatizadas, parece seguir exatamente os mesmos princípios
que norteiam essas práticas. Passa-se a informação, as técnicas
de aplicação do conhecimento, mas já não se ensina mais a ter
independência intelectual. Nas universidades, verdadeiras linhas de
montagem, já não se formam pensadores, apenas técnicos,
aplicadores de um conhecimento que não são capazes de compreender,
muito menos de criticar. São poucos e afortunados aqueles que
escapam à regra e conseguem criar conhecimento, criticar positiva ou
negativamente as informações de que tomam ciência, tomar parte
ativa na construção e melhoria da sociedade.
Houve, com a mercantilização da educação, uma crescente corrida
na direção de um ensino mais prático, mais utilitarista, pouco
engajado e despreocupado com a formação de cidadãos. Há, na atual
conjuntura do ensino, uma preocupação abusiva com a produtividade.
A própria tendência imediatista, reflexo de uma sociedade
tecnológica, faz com que o ensino perca em profundidade para ganhar
em praticidade. Basta observar um pequeno grupo de adolescentes para
notar o quão ansiosos ficam pela demora na assimilação de qualquer
conteúdo ou saber. Esse imediatismo, essa busca pela síntese, pelo
mais rápido e prático, também acaba por influir na forma como a
educação está sendo pensada e tratada. A sociedade neoliberal,
focada na questão econômica, acaba por retirar a ideia de cidadania
da educação, tornando a universidade um espaço privado e
privatizado. O objetivo, agora, é a obtenção de lucro.
Especificamente quanto ao curso de Direito, universo do qual faço
parte, onde o saber deveria ser, a princípio, bastante amplo e
multidisciplinar, observamos facilmente as funestas consequências
das escolhas da humanidade.
O objetivo maior das faculdades de direito no Brasil passou a ser a
aprovação de seus alunos no Exame da Ordem, grande chamariz e peça
chave na promoção das instituições. Ou seja, valoriza-se a
assimilação dogmática ao invés da aprendizagem crítica.
Constroem-se fantoches ao invés de moldarem-se cidadãos.
Publicado originalmente como "Universidades: as linhas de montagem da educação" no Jornal A Razão (2011).
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